quinta-feira, 19 de julho de 2012

O que metade de uma panqueca pode render


Este dias, fui almoçar em um restaurante que costumo ir quando estou com pouca grana. A comida é boa, mas o fato de uma folha de sulfite colada na parede informar que pelos restos deixados no prato serão cobrados R$ 5, me incomoda um pouco. Pois não sei se isso só acontece comigo, mas tenho um sério problema com tamanhos e proporções, o que vale para roupas, tempo e comida. Pois bem, o fato é que sempre coloco mais do que como e não me sinto tão a vontade no restaurante que me força a comer mais do que quero, mesmo quando a comida já esta no prato.

Então fui me servir, peguei uma panqueca, um pouco de arroz, vinagrete e, a metade de mais uma panqueca, já que uma senhora havia pegado a outra.
Fui para a mesa com minha namorada e pedimos uma tubaína de guaraná. Comecei comendo a metade da panqueca e quando já estava na metade da panqueca inteira não aguentava mais. Olhei pra minha namorada e perguntei se ela queria. Disse que não e sugeriu que eu pedisse para embalarem a metade da panqueca para viagem. De pronto, recusei. Afinal, eu não a comeria depois.

Ela insistiu e pediu que eu a desse para algum morador de rua, que pra alguém que passa fome aquilo serviria. Convenceu-me. E então, quando a funcionária veio retirar os pratos, pedi que embalasse a tal panqueca para mim. Ela fez uma cara de espanto, levantou as duas sobrancelhas e meio que engolindo as palavras disse que não saberia se sua patroa a deixaria embalar. Eu disse que não queria jogar a panqueca fora. Ela me perguntou se poderia embala-la em uma sacolinha. Respondi que tudo bem. Só não sabia que ela voltaria com aquele pedaço de panqueca em uma sacola plástica. Como se fosse comida pra cachorro.

Então sai de lá a procura de um cachorro pra dar aquele tapa fome passageiro. Minha namorada lembra que tem um morador de rua na mesma onde trabalhamos. Digo nunca ter visto. Até ela apontar um colchão com uma coberta dobrada em cima. Eu, com muita vergonha, meio sem jeito, me aproximo do colchão e deixo a metade da panqueca sobre ele. Deixo e saio sem avistar o dono daquele temporário espaço.

Mais a noite, ao chegar em casa, no banho me lembro de tudo isso: do quão admirável era o pensamento de minha namorada e do quanto desperdiçamos sem perceber. Vou dormir com dúvida se o morador de rua aproveitou ou não aquela metade de panqueca. Mas, com a certeza de que não é preciso forçar alguém para que tenha consciência sobre determinados excessos, porque o mesmo restaurante que me cobra R$ 5 pelas sobras é o mesmo que me devolve-as em uma sacola plástica, excluindo as chances de ser consumida. E aí? Onde está aquela consciência de desperdício que dizem querer passar?!

Como disse o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no Rio+20 "Em todo o mundo, acredito que temos comida suficiente para alimentar sete bilhões de pessoas (população mundial atual, segundo a ONU), mas o sistema não está funcionando”. O problema é que todo mundo acha que o sistema é composto por políticos, mas esquecem que políticos são pessoas. E, por que nós, não podemos ser estas pessoas, mas que fazem a roda funcionar?! 

*Um ótimo exemplo é o TangoTab, um site que alimenta uma pessoa faminta cada vez que uma pessoa come uma refeição em um dos restaurantes participantes do projeto.  Veja aqui





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